Olá, eu sou a Catarina Ramos.
Sou fisioterapeuta e tenho o meu próprio gabinete, chama-se C Ramos Fisioterapia e está localizado na aldeia de Vila Chã no concelho de Vila do Conde.
Escrevo hoje porque o meu espaço faz hoje três anos...
Três anos desde que abriu as portas ao público, ainda sem tapetes no chão e cadeiras na sala de espera. E foi um passinho de cada vez...
E sabem aqueles cadernos onde se apontam as metas que desejamos alcançar? Estabelecemos metas a curto, médio e longo prazo... eu fui fazendo vistos no meu caderno e fui alcançando as minhas medalhas.
Desde as cadeiras à decoração, aos aparelhos que consegui comprar... a lista de pacientes foi aumentando e o meu sorriso também, sabem aquela sensação de dever cumprido?
Às vezes fico meia convencida e acho que curo as pessoas e sinto-me a maior!!!
Pois é, eu curo as pessoas... eu tiro-lhes a dor e às vezes mudo-lhes o estado de espírito, eu faço mesmo isso, sabiam? Chegam pessoas com vontade de mandar com a vida para o car@go (desculpem a brutalidade eu sou do Norte), chegam revoltadas porque a dor não passa e aquela queda mudou-lhes a vida e eu faço-lhes mudar de ideias... eu digo-lhes "deixe-se de coisas que nem no inferno o querem" e elas riem... e abstraiem-se da dor ... e começamos o tratamento, as avaliações, as mobilizações, as massagens, os exercícios (...) e dizem que eu sou má como as cobras... mas saiem bem dispostas... Ás vezes são elas que me fazem rir a mim, uma vez um senhor disse " se eu fosse um pássaro era um condor, com dor aqui, com dor ali" e ficou a sala toda a rir... e sinto falta desta alegria, desta partilha, destes momentos.
Uma vez li "encontra um trabalho que gostes e não terás de trabalhar um dia na vida" e eu sinto isso...
E depois veio o vírus, invisível e silencioso e eu adaptei a minha realidade, proibi a entrada de acompanhantes, pedi a todos que desinfetassem as mãos, só entravam dois pacientes por hora, usava toda a proteção possível, luvas, máscaras, limpava tudo a toda a hora, abria as janelas de hora a hora e não quis fechar.
Durante algum tempo não quis fechar, as pessoas queriam vir, e não era a minha missão melhorar a vida delas?
Depois começaram muitos colegas a fechar, e eu ainda assim não queria!!!
A minha missão era ajudar os outros.
E se eu não estivesse lá eles iam ao hospital, não era pior??
Foi uma altura complicada, percebi que os meus amigos do tempo da faculdade não pensavam como eu...
Estaria eu errada?
Mas os meus pacientes precisavam de mim...
Depois lia comentários sobre quem mantinha os negócios abertos só pensava em dinheiro!!! E minha gente, isso chateou-me!!!! CHATEOU-ME IMENSO! Eu comecei a minha carreira de fisioterapeuta em França. Fui para lá sozinha num avião, sem conhecer ninguém para trabalhar 4 dias por semana e a ganhar o triplo do salário mínimo em Portugal.
Juntei o meu dinheiro e vim embora... Eu odiei lá estar, não pelo trabalho, não pelos 40 amigos que fiz, não pelas tardes e churrascos, não pelas vias ferratas e NÃO PELO DINHEIRO (sentia-me rica! Pagava casa, água, luz, gás, compras para casa, saia com os amigos e ainda sobrava para juntar na conta poupança), ainda assim odiei estar longe dos meus, da minha casa, dos meus pais, da minha irmã, dos meus amigos, da senhora do talho, do senhor da padaria, da dona do café, do cão, do gato e do piriquito... por isso o que me move nunca foi o dinheiro...
Abri o meu espaço!!!! E trabalho a recibos verdes, não tenho direito a quase nada... tem dias que trabalho 12 horas, e fora a fisioterapia que eu tenho tanto gosto, também faz parte das minhas tarefas limpar o chão, os vidros e a sanita... e não não tenho um salário milionário, nem pouco mais ao menos... então a ideia de não fechar não era ganância... Nunca foi!
E os números de infetados começaram a aumentar e eu pensei que poderia estar errada, que apesar de ter pacientes que não pararam o trabalho e precisavam do meu trabalho, apesar de tudo, eu podia estar a fazer pior, não sabia se estaria eu contagiada. Então fechei, a muito custo...
E depois começaram as chamadas... e não, não estou a falar da telefisioterapia, estou a falar daquela chamada da dona Maria (nome fictício ) a pedir pelos céus e por todos os santinhos para eu ir lá a casa, para eu ajudar, porque quase desmaiava com a dor. Estou a falar da chamada do senhor António (nome fictício) que me ligou quase a chorar a dizer que não conseguia pousar o pé no chão, que era só ele em casa e nem conseguia estar de pé para fazer o comer, para eu, por favor, ajudar!
E isto foi uma faca no meu coração, como dizer que não? Mas tinha de ser profissional, um agente de saúde pública. Todos falavam em responsabilidade e eu tinha de ser responsável... não é fácil!!!
E fechei as portas, e comecei a partilhar vídeos explicativos de exercícios gerais e gratuitos na minha página de Facebook. E gratuitamente atendo o telemóvel e ensino o paciente a fazer um auto-tratamento o mais eficaz possível, e quando são mais jovens fazemos vídeo-chamada.
E agora olho para o meu caderno de papel e as metas mudam:
É esta a minha história...
Um beijinho do tamanho do mundo e obrigada à equipa da bwizer pela formação online e gratuita que tem ajudado a ocupar as minhas tardes sozinha em casa e a lembrar do tempo que tinha aulas novamente.
Facebook: C Ramos Fisioterapia
Instagram: C.ramos.fisioterapia
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OBRIGADO pela partilha 👏
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