As empresas são feitas para inspirar os seus clientes; para satisfazer as suas necessidades ou desejos. As empresas são feitas de pessoas.
Como sabe, a Bwizer promove Formação. Mas em último caso, o que fazemos é potenciar a superação de quem nos segue – e isto não vem apenas da aprendizagem técnica, mas também da observação dos bons exemplos de vida.
Hoje a equipa Bwizer partilha consigo um texto do Hugo Belchior, fundador da Bwizer, em semana de celebração do seu 37º aniversário. Fazemo-lo porque nos inspiramos o que escreveu, porque sentimos honestidade em cada palavra, porque fomos motivados pelo sentido de responsabilidade, pela inquietude, e pela vontade indomável de nunca parar. Fazemo-lo porque acreditamos que pode mudar alguma coisa em si também! Boa leitura
Nos anos anteriores tenho sempre partilhado um texto de reflexão sobre o ano que terminou. Este ano não o tinha feito. Basicamente, os dias têm sido tão intensos que não me permitiram encontrar o espaço que essa reflexão sempre exige.
Ainda assim, pensei: “que Diabo, se não tenho 20 minutos para parar e escrever, então, é porque não tenho vida!”. Aliás, se há coisa que tenho feito mais nos últimos 365 dias é dedicar tempo para parar, pensar, meditar e escrever. Desde logo por isso, não podia não escrever este texto.
Por norma, concentro a minha meditação e escrita, de manhã. É algo que faço contrariando a minha natureza, que me impele a entrar diretamente em modo ativo. Com isso, é-me mais fácil parar o tempo e a saboreá-lo, algo fundamental para trazer algum sossego na voragem dos dias.
Nestes 365 anos, adotei outra prática. Prática que, como todas as outras que procuro seguir, faço com falhas e com quebras de disciplina. Essa prática, por norma ao Domingo à tarde, em silêncio, consiste em avaliar-me quantitativamente, numa série de dimensões da minha vida e numa série de papéis que desempenho, desde o empreendedor e líder, por exemplo, aos papéis de filho, irmão, tio e amigo, estes bem mais importantes.
Quase todos os domingos me forço a refletir sobre como foi o meu comportamento em cada dimensão e dou-me uma nota. Poderá traduzir um lado paranoico, obsessivo – é provável que assim seja – todavia, esse exercício ajuda-me a manter fiel ao que considero ser mais importante, mesmo quando o ritmo do dia-a-dia quer sugar toda a minha atenção e energia. É que, um exercício destes de pouco serve se não tivermos pré-definido a nossa “missão”, a razão da nossa existência, o nosso propósito. Ao longo do último ano, se houve coisa que procurei burilar foi, precisamente, a minha missão de vida.
Escrevia-a e reescrevi-a vezes sem conta até chegar a uma redação suficientemente satisfatória. Leio-a regularmente. No mínimo, uma vez por semana. Ajuda-me a manter no rumo. Uma “missão” pessoal não é imutável. É dinâmica como é a vida. Mas dá um sentido e uma orientação.
Esse sentido de propósito – no meu caso, em permanente análise – ajuda-me imenso a sentir-me grato. Diariamente, a última coisa que faço antes de dormir, é pensar nas coisas pelas quais estou grato. Raramente são coisas “grandiosas”. Mas, um abraço que possa ter recebido da minha sobrinha, uma gargalhada com amigos, um momento de harmonia em família, um momento de superação da equipa, merecem sempre a minha gratidão.
Sentir-me grato, note-se, é algo que entra facilmente em confronto com a minha natureza ambiciosa, descontente e inquieta. Estou programado para ver primeiro o que não fiz em vez do que já fiz. Tendo a celebrar pouco e a projetar muito. Às vezes, ouço-me a lamuriar pelo contexto onde me movo mas, penso que nunca lhe atribuo mais responsabilidade por aquilo que não consigo atingir, do que à minha incapacidade pessoal.
Ser crítico de mim mesmo ajuda-me a evoluir, concedo; é também penoso, por vezes. Nos 365 últimos dias aprendi muito. No meio desta aprendizagem, tenho procurado ser um pouco menos duro comigo próprio. Essa exigência, ainda assim, raramente me leva para estados de letargia ou depressão. Leva-me sim para novos projeto e novas frentes de batalha. Tenho dificuldade em dizer que não a uma coisa que me desafie e que ache que conseguirei fazer. Será, muito provavelmente, o meu maior defeito como gestor, porque me leva a dispersar o meu foco, a minha energia e o meu tempo. Ainda assim, conheço-me o suficiente para saber que se não me colocar um desafio relevante volta e meia, vou ficar pouco entusiasmado com o que quer que seja. Paradoxalmente, se tiver imensas coisas para fazer, as coisas “menos entusiasmantes” também são despachadas a um maior ritmo, como se a minha produtividade geral fosse potenciada por aquele estado de maior entusiasmo.
Conhecer pessoas novas, novas maneiras de pensar e de ver o mundo, é crítico. Durante muito tempo, metido no dia a dia, pouco fiz neste campo. Hoje, tenho estratégias que me forçam a ampliar a minha rede de contactos com regularidade. E como isso tem expandido os meus horizontes!
O ano que passou fica marcado por ter sido o ano em que iniciei os meus investimentos pessoais em Bitcoin e noutras criptomoedas, depois de um estudo dedicado. Mas, o mais importante deste processo não é financeiro; são as pessoas que já conheci, o que já aprendi, e a ginástica mental que já me proporcionou. Sentir que estou numa sala e que sei menos que todos os outros, mas ter a coragem para ficar, perguntar, aprender e evoluir, é das coisas boas que tenho feito.
Aprendo imenso com as entrevistas que faço. É mesmo muito interessante, apesar de ser um hobbie caro. Um hobbie que preferi, a comprar um carro novo...
No ano que passou mudei de funções na empresa que fundei, a Bwizer. Tive que absorver funções mais operacionais, depois de uma fase quase só focado na estratégia e na coordenação geral. Esse movimento, apesar de, supostamente, me retirar tempo para o trabalho estratégico, deu-me insights com enorme relevância estratégica. Pensa-se melhor estrategicamente quando se mete as mão na massa até aos cotovelos!
No último ano, fechei uma empresa. A minha primeira empresa. Sem mágoa, dor ou saudosismo. Foi um capítulo que se fechou naturalmente. Um capítulo que durou mais do que alguma vez tinha imaginado. Um capítulo que vejo como uma preparação para outras coisas.
Fechei uma empresa e abri outra. Chama-se Mostrengo. O nome tem uma história. Parte dela é que Mostrengo é outra designação de Adamastor, entidade mítica que fazia temer os nossos marinheiros. Mostrengo é a superação do medo. Do meu e dos outros. Faz parte da sua missão. Mas o nome tem outra razão de ser: queria que fosse um nome que divertisse a minha sobrinha. E, nós, temos uma brincadeira muito nossa: brincamos aos monstros… Quando lhe disse que ia abrir uma empresa e de lhe (tentar) explicar o que era isso, disse-lhe que tinha um nome. Fiz a pergunta com uma expressão que ela percebeu logo e atirou “Monstros!”. Não, disse eu! “Mostrengos!”. Nem mais, acertaste. Arranquei-lhe uma bela gargalhada, intrigada com a maluquice do tio. Pronto, era o nome perfeito!
Aos 37 anos já ninguém nos diz que somos uns jovens. Isso acaba aos 30. Os 40 estão já ali. Daqui a outros tantos anos, terei 74 anos, o que significa que metade da minha vida, talvez um pouco menos, já lá vai. Isso faz-me pensar. E, desde logo por isso, tenho muito mais resistência a gastar tempo com o que não quero ou quem não quero. Porquê gastar tempo num jantar entediante com pessoas que nada interessam, quando o número de jantares que poderei saborear nesta vida, é finito?
É claro que isto nos pode transformar nuns cínicos ou nuns seres híper auto-centrados. Evito isso. Evito isso lembrando-me que, mais importante do que os feitos individuais – e eu sou muito motivado pelo feitos – são as relações com aquela meia dúzia de pessoas que, em última análise, dão sentido às nossas vidas.
O exercício máximo de gratidão é pensar em como seria a minha vida se aquelas pessoas que me são mais próximas e mais importantes, morressem todas, de uma vez.
Quando esse momento de pânico acaba de corroer as nossas almas, fica claro que o Sol brilha sempre, que há sempre um sorriso a conquistar, que há sempre um sorriso para oferecer. Na 38º volta ao Sol que hoje começo tenho um desejo. Para mim e para ti: sorrir mais, com satisfação e genuinidade.
Pode também ler este texto aqui.
CV: Hugo Belchior é fisioterapeuta, no entanto cedo percebeu que área que verdadeiramente o fascinava e motivava era a Gestão. Atualmente, lidera dois projetos empresariais próprios e outros projetos ligados ao empreendedorismo e gestão.